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quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Descoberta possível nova espécie de porco-espinho na Mata Atlântica

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Por Naira Sérvio
Os grandes mamíferos, símbolos da Mata Atlântica, como a onça, o veado e a anta, já não são mais vistos nos fragmentos restantes desse bioma na área nordestina ao norte do rio São Francisco, denominada Centro de Endemismo Pernambuco (CEPE). Além da extinção local desses animais, os mamíferos de médio porte também estão seriamente ameaçados. Esse processo é resultado da fragmentação da Mata Atlântica e, ainda, da ação da caça na região.
A pesquisa feita pelo “Grupo de Estudo e Conservação da Natureza”, desenvolvida pelos mestrandos Éverton Melo e José Ramon Gadelha e pelo professor Antônio Rossano, vinculados ao Departamento de Zoologia e ao Programa de Pós-Graduação em Biologia Animal, ambos da UFPE, evidencia que 24 das 41 espécies de mamíferos nativas do CEPE provavelmente não existem mais nessa área, o que corresponde a 58,5% das espécies. No entanto, apesar da degradação e fragmentação do bioma, os pesquisadores descobriram uma possível nova espécie de porco-espinho do gênero Sphiggurus, o cuandú-mirim, que será submetida a periódicos científicos para aprovação. Registraram, ainda, a presença de outro porco-espinho também chamado de ouriço, o Coendou prehensilis, que servirá de neótipo, espécime depositada em museu para designar a espécie.
A fragmentação de ambientes naturais ameaça fortemente a biodiversidade, o que resulta na extinção de espécies e no declínio de suas populações. A Mata Atlântica é o quarto bioma mais importante para a diversidade biológica do planeta, com muitas espécies de plantas e animais ainda desconhecidas. No entanto, é também um dos biomas com maior índice de destruição: restam apenas 8% da sua cobertura original, sendo a situação ainda mais preocupante no nordeste brasileiro, já que esse percentual cai para 2%. Na área nordestina, 48% dos fragmentos de Mata Atlântica são menores do que 10 hectares e circundados por plantações de cana-de-açúcar em sua maioria.
O estudo desenvolvido pelos mestrandos se propôs a observar de que forma os mamíferos de médio e grande porte estão reagindo à fragmentação da Mata Atlântica nordestina na área ao norte do Rio São Francisco, o Centro de Endemismo Pernambuco, que abrange extensões dos estados de Pernambuco, Alagoas, Rio Grande do Norte e Paraíba, com área de aproximadamente 140.000 hectares. O estudo também visou entender como a ação da caça tem contribuído para o desaparecimento desses animais.
CAMINHADAS - Para isso, os pesquisadores percorreram 268,74 quilômetros em caminhadas – o que totalizou 570 horas de trilhas – em sete fragmentos de Mata Atlântica localizados na usina de cana-de-açúcar “Trapiche”, no município de Sirinhaém, em Pernambuco. No local, foram abertas trilhas, a partir de prévia observação da área por GPS, para a realização de levantamentos de mamíferos através do método de transecto linear. O método consiste em percorrer a pé um trajeto retilíneo, com paradas regulares e de forma silenciosa, a fim de facilitarem a visualização e o registro dos mamíferos para cálculo da densidade e análise do comportamento de cada espécie. Foram registrados indícios de impacto humano prejudiciais à comunidade dos mamíferos, como plataformas de caça, disparos de tiros e presença de cachorros e pessoas nas matas.
Segundo o pesquisador Éverton Melo, “a comunidade de mamíferos sobreviventes é altamente simplificada, já que restaram poucas espécies, todas elas de médio porte, não existindo mais os grandes mamíferos. É, ainda, generalista, pois essas poucas espécies só conseguiram sobreviver porque se adaptaram à utilização de recursos (alimentos e habitat) escassos e de baixa qualidade”. Assim, mesmo diante da degradação do habitat natural dessas espécies, elas são poucos sensíveis a esse processo, com grandes densidades. Exemplos dos mamíferos são o sagui (Callithrix jacchus), a preguiça (Bradypus variegatus, o quati (Nasua nasua), além do esquilo (Sciurus aestuans) e da raposa (Cerdocyon thous).
No entanto, ele aponta que espécies como o papa-mel (Eira barbara), o gato-do-mato (Leopardus tigrinus) e o ouriço (Coendou prehensilis) apresentam baixas densidades, pois não conseguem se adaptar a esse ambiente. A diminuição de tais mamíferos resulta do impacto humano e dos fatores fisiológicos próprios de cada espécie. Foi observado um alto nível de degradação provocada pelo homem em todos os fragmentos estudados, principalmente naqueles com maior abundância de espécies, em que a ação da caça é mais executada.
Os maiores fragmentos observados não foram necessariamente os mais ricos em espécies, o que demonstra um cenário bastante empobrecido, sendo a distribuição desses mamíferos aleatória. No CEPE, há uma pequena quantidade de fragmentos grandes, o que reduz a disponibilidade de refúgios de sobrevivência para os mamíferos. Além disso, o isolamento dos pequenos fragmentos restantes pela matriz de cana-de-açúcar prejudica a recolonização de outras pequenas áreas devastadas, já que a circulação dos animais entre os mesmos é dificultada.
DESCOBERTAS – Apesar do avançado nível de degradação do CEPE, o estudo resultou ainda na descoberta de uma espécie de porco-espinho, o cuandú-mirim, e de um neótipo do ouriço (Coendou preheensilis), depositado em museu para designar a espécie. Este foi descoberto em Pernambuco no ano de 1758. No entanto, o animal coletado originalmente, denominado holótipo, foi perdido. A descoberta desse novo espécime servirá como padrão para os futuros trabalhos desenvolvidos a respeito do ouriço.
Os pesquisadores da UFPE realizam um estudo pioneiro sobre o Coendou preheensilis, em parceria com os professores Yuri Leite e Leonora Pires Costa, ambos da Universidade Federal de Espírito Santo. As descobertas encontram-se em fase de submissão a periódicos científicos especializados. Elas reforçam a necessidade de medidas conservacionistas urgentes para a Mata Atlântica do CEPE, já que, se nada for feito, muitas espécies podem desaparecer nas próximas décadas antes mesmo de se tornarem conhecidas pela ciência.
Mais informações
Departamento de Zoologia da UFPE
(81) 2126.8353

http://oglobo.globo.com/ciencia/nova-especie-de-felino-descoberta-no-centro-sul-do-brasil-10903881